domingo, 24 de maio de 2020

‘OS “DO RÊGO FALCÃO” DE BATURITÉ.






... Ao sair da “minha pobre casinha” mirei quase defronte as casas dos Rêgo Falcão, comerciantes da cidade, relembrando as distintas famílias.

            O Cel. Francisco do Rego Falcão e Da. Conceição Castelo Branco, irmã da Professora de piano Da.  Edwiges, que ensinava de graça a minha irmã Alzira, sua afilhada.

            O filho mais velho do casal era o Waldemar, que acrescentou um Cromwell no nome, chamando-se Waldemar Cromwell do Rego Falcão.

            Agnóstico até certa idade, com o que entristecia Da. Conceição, mito religiosa, tornou-se depois bom católico. Influente advogado do Banco do Brasil, político, Chefe de Policia do estado, deputado federal, Ministro do Trabalho e Presidente do Superior Tribunal Eleitoral. Ainda exercia este cargo, quando viajou para os USA à procura de tratamento médico especializado, ali falecendo.

            Waldemar mereceu da cidade de Baturité uma elevada homenagem póstuma. O Prefeito Comendador Ananias Arruda, deu o seu nome à antiga Praça João Ramos, constituída de metade da grande e antiga Praça Alfredo Dutra, convivendo atualmente as duas em simbiose.

            No lado da Praça Waldemar Falcão contíguo à Rua Sete de Setembro, o Comendador erigiu um bonito pedestal de granito e sobre ele o busto de bronze do homenageado.

            Outro filho, o Edgard – apelidado de “cabeça de manga”, desde criança mostrava pendor para o comércio, tendo prosperado muito e emigrado. Outro – o Oscar, era uma rapaz muito moderado e estudioso. Foi representante no Estado da Bahia da grande empresa Bayer. Já é falecido, outro ainda – o Fernando, foi presidente do extinto Instituto Nacional do Sal. Por intermédio do Ministro Waldemar, requisitou-me ao antigo IAPI para servir no seu Instituto como Inspetor, função que exerci no Maranhão, chefiando dois fiscais. Tinha finalmente o Edmilson, promotor de Justiça, falecido no Rio, há um decênio.

            Entre as filhas relembro a Dinorá, hoje viúva, técnica de educação, aposentada como Inspetora de Ensino do Ministério da Educação e Cultura: a Suzete e a Rosely.

            Elas formavam um excelente trio que nas festinhas caseiras, em atraentes serestas, deliciavam os convidados e o numeroso “sereno”.

            O piano de Dinorá exercia sobre mim uma influência a uirapuru e muito me embeveciam os cantos e recitativos das outras. Parece-me estar vendo a Rosely, ligeiramente estrábica e muito bonitinha, cantando em 1912, acompanhada pela Dinorá:



            Recordo-me querida       

            Risonha e prazenteira

            Qual vi a vez primeira

            O meigo rosto teu.

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            Waldemar era casado com Da. Ademir Ribeiro, colega interna de escola de minha mulher Delcarlina Araripe. Era filha do Cel. Abel Ribeiro, industrial e comerciante maranguapense; irmã do livreiro Humberto Ribeiro, um dos maiores futebolistas que o Ceará já deu.

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            A outra família era a do Coronel Manoel do Rego Falcão, casado com Da. Isabel Parente Falcão, natural de Sobral, que faleceu viúva aos cem anos de idade!

            O Coronel era comerciante, estabelecido na antiga Rua do Comércio, perto da Praça Santa Luzia, lado oposto ao Mercado.

            Foi assassinado em frente ao seu estabelecimento, por ocasião de um tiroteio ocorrido juma baderna organizada por seus inimigos políticos, na qual tomaram parte saliente os baturiteenses Francisco Mendes e Júlio Severiano. A justiça nunca apurou devidamente esse crime, para punir os responsáveis.

            O filho mais velho do Coronel era o Edmundo, que sempre foi muito meu amigo desde a infância até há alguns anos quando faleceu aqui no Rio de janeiro. Foi funcionário do Banco do Brasil, nomeado em 1923, em Fortaleza.

            Era casado com Da. Laura Ribeiro Falcão, filha do Sr. João da Mata Severo e  Da. Amélia Ribeiro Severo, quixeramobienses. Tinha três filhos – Armando, Maria Laura e José.

            O Armando – ex-Ministro da Justiça pela segunda vez, é tabelião no Rio de Janeiro; foi herdeiro de uma grande fazenda em quixeramobim, do espólio de seu avô materno, faro que os baturiteenses muito lastimam porque ele com essa fazenda como segunda residência, tem concorrido para o progresso da cidade, com sua operosidade e recursos financeiros, deixando de prestar a sua valiosa ajuda à cidade de Baturité, reduto das famílias Rego Falcão.

            O Segundo filho foi o Francisco, representante no Ceará da grande organização Singer que dirigia de Fortaleza, onde faleceu.

            O terceiro – Dr. Rubens do Rego Falcão que tenho a honra e o prazer de incluir no número dos meus amigos, reside em Niterói. È advogado, jornalista, técnico em educação e escritor, com diversas obras publicadas. Tem prestado valiosos serviços à Alta Administração do Estado do Rio de Janeiro, tanto na Educação como na Justiça. Foi duas vezes Diretor de Ensino e, por último, Secretário de Educação e Cultura. Aposentou-se quando exercia com brilhantismo o cargo de Consultor Jurídico da Secretaria do Interior e Justiça.

            Rubens não descura das atividades literárias e sociais. È membro qui no Rio, da Casa do Ceará e do Centro Clóvis Beviláqua, do Instituto Histórico de Niterói, do seu xará do Rio Grande do Norte e sócio correspondente do xará do Ceará.

            Vieram em seguida, o Manoel, coronel reformado da Força Pública do Ceará, e José Nestor, Delegado do Trabalho, residente em Fortaleza, e Maria Esther, ex-funcionária da Secretaria de Agricultura, falecida.

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(Págs. 137 – 140)



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Numa casa desta rua morou o Dr. Alfredo de Oliveira, que tinha uma filha muito apreciada pela rapaziada, porque era muito graciosa e usava trajes que salientavam a sua elegância, como a silhueta do violão.

            O Dr. Alfredo, Juiz Substituto influiu, dizem que decisivamente, e erradamente, para o arquivamento de um processo criminal relativo ao assassínio do Cel. Manoel do Rego, autoridade policial e vereador municipal, num motim organizado por seus inimigos políticos.

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(Pág. 148)



Mundim de Baturité (Traquinices e Traquinadas) – Raimundo Barros Filho. Jowil Editora e Artes Gráficas, Rio de Janeiro – 1987.