A Prisão de Cazuzão
Conforme a tradição familiar, Cazuzão era primo de Pedro José Pereira Castello Branco, (Pedro Cru), e proprietário de fazendas de criação de gado na região de Tauá. Homem tosco criado de conformidade com as adversidades do sertão, achava-se senhor de tudo, até da vida das pessoas.
Em certo dia, um menino, filho de um morador, comia pequenas porções da farinha, que se assava no forno de sua Fazenda. Cazuzão vendo aquilo, encheu-se de ira e perdendo completamente a razão, ordenou que a criança, fosse jogada dentro da fornalha que aquecia o tacho que servia para cozer a farinha, causando-lhe a morte.
A maldade deste ato causou tamanha repercussão em toda a Provincia do Ceará, e no Imprério, que ordem para a prisão de Cazuzão, foi emitida pela Corte Imperial.
Mas quem se atreveria a cumpri-la?
Pedro Castelo, (Pedro Cru) então Delegado de Tauá, prontificou-se a obedecer à ordem.
Dirigiu-se para a Fazenda de Cazuzão com sua tropa. Este sabedor do intento de Pedro Castelo, embrenhou-se na mata, de modo que se desconhecia o seu paradeiro.
Depois de alguma pesquisa, Pedro Castelo encontrou um casal de velhinhos que disseram que se ele lhes garantisse a vida, indicariam o esconderijo de Cazuzão. No que foram prontamente atendidos.
O Velho pediu que Pedro Castelo o seguisse pela Caatinga, e após alguma caminhada ao chegar numa clareira que havia na mata, bateu o pé no chão, e disse que debaixo do chão estavam Cazuzão e seus homens escondidos.
Pedro Castelo, percebeu que o solo de fato era uma cobertura de um buraco, engenhosamente camuflado com folhas onde Cazuzão e seus homens se escondiam. Perfurou, portanto, em algumas extremidades e apontado seus rifles, gritou para Cazuzão, que ali estava seu primo Pedro Castelo para prendê-lo.
Cazuzão não tendo alternativas, rendeu-se.
Uma coisa era prendê-lo, outra era tirá-lo de Tauá. Sua família detinha a posse de vastas possessões de terra, por onde teria de ser escoltado até Fortaleza. Ademais, uma das irmãs de jurou que ele não seria levado.
Pedro Castelo então com artimanha, amarrou seu primo e o pôs à frente de sua tropa, ordenando aos soldados que marchassem em formação, e apontassem seus rifles para a cabeça do preso, e que ao primeiro sinal de tentativa de soltá-lo, que se atirasse em sua cabeça.
Saíram de Tauá e pusseram-se em marcha, atravessando o pátio da fazenda da irmã de Cazuzão, que embora tivesse vários homens fortemente armados, nada puderam fazer para não colocar em risco a vida de seu irmão.
Desta maneira, pode Pedro Castelo, conduzi-lo acorrentado a Fortaleza de onde seguiu para o Rio de janeiro, então, Capital do Império. Sendo por seu ato de coragem condecorado pelo Governo Imperial.
Anos após, em Baturité, na residência do então Coronel Pedro Castelo, chegaram 2 oficiais da Marinha que o procuravam. Para uma mãe trêmula, identificaram-se como filhos de Cazuzão. A Mãe achava que era em busca de vingança que aqueles homens procuravam a Pedro Castelo, que não se encontrava na ocasião.
Os homens procuraram acalmá-la, dizendo que estavam ali para expressar a gratidão pelo ato de Pedro Castelo. Eles agora com suas famílias viviam bem, tinham postos elevados na Marinha, e entendiam que tudo isso só tinha acontecido pelo destemor do primo de seu pai, não guardavam mágoa.
Assim o cumprimento da Lei levou auquele homem a prender seu próprio primo, mesmo não contando com o beneficio maior que faria, que era dar condições aos seus familiares de abandonar a então vida rude que tinham no sertão, estudar e adotar um modo de vida diferente, que encheu suas vidas de dignidade”.
Em muitas outras ocasiões, Pedro Castelo (alcunhado de Pedro Cru), mostrou destemor. O que provavelmente o expôs a doença cardíaca que acabou ceifando sua vida aos 58 anos de idade.
Traz relatos que fazem parte da história das Famílias: Silveira, Severiano, Castelo Branco, Correa Lima, Maciel, Rego Falcão, Arruda, Pinheiro e outras que fizeram e fazem parte da história da Cidade de Baturité, Estado do Ceará, e suas ramificações por outros Estados do Brasil.
quinta-feira, 31 de dezembro de 2009
FAMILIAS DE BATURITÉ E SUAS RAMIFICAÇÕES
FAMILIAS DE BATURITÉ E SUAS RAMIFICAÇÕES
(Jornal A Verdade nº 3.017 11-12/1991.
Vinicius Barros Leal – (do Instituto do Ceará e da Academia Cearense de Letras).
III – Família Castelo Branco
A família Castelo Branco não foi das primeiras a chegar em Baturité, mas ali já se encontrava no começo do século XIX. Veio de Quixeramobim, onde estava instalada com fazendas de gado.
O Patriarca do Clã foi o português Tenente Cel. Matias Pereira Castelo Branco, natural de Viseu. Vindo solteiro para o Brasil e aqui chegado nos anos trinta do século XVIII. Casou na Ribeira do Jaguaribe com Emereciana Barbalho, descendente dos Correia – Vieiras, gente das mais abonadas da região.
O casal fixou-se nas terras da família que eram muitas, abrangendo fazendas e currais nas margens do Sitiá e do Quixeramobim.
Desse casamento nasceram onze filhos que por casamento se entrelaçaram com muitas outras famílias de criadores da mesma região. Os Pimenta de Aguiar, Saraiva Leão e Leitão foram os que mais constituíram união com os Castelo Branco.
Para Baturité e sua serra dirigiram-se os interesses da família, em vista da boa qualidade das terras propícias para a agricultura e também pela necessidade que tinham de possuir pastos salvadores dos grandes rebanhos, nas freqüentes e temíveis estiagens.
O Tte. Cel. aparece cedo nos registros eclesiásticos, testemunhando casamentos, apadrinhando filhos de serranos e também, nos deveres cívicos.
Dos filhos do Coronel o que mais influência teve em Baturité foi o Capitão Antonio Pereira Castelo Branco, nascido em 1772 e casado com D. Francisca Maria Leitão. Foram muitos os filhos deste casal, alguns participando ativamente da vida local, especialmente o Coronel Manuel Felipe, que casou em Baturité, com Isabel Gomes da Silveira. O sogro de Manuel Felipe, era um verdadeiro potentado, com muito prestigio político e social, o Coronel João Gomes da Silveira, filho do fundador da família Silveira, paraibano de Mamanguape, Capitão Luis Gomes da Silveira.
Manuel Felipe tinha um temperamento inquieto e envolveu-se nos principais acontecimentos locais, desde os movimentos revolucionários de 1817, 1821 e 1824. Esteve sempre na dianteira dos que se rebelavam e protestavam contra a situação corrente. Por isso, sofreu sérias conseqüências, minorizadas por sua habilidade e astúcia. Teve querelas e atritos com muitos elementos conservadores de seu mesmo partido, e brigou até com o respeitável vigário. Este, vingava-se, anotando nos livros de registros os apodos do truculento paroquiano. Sempre que era necessário referir-se ao nome de Manuel Felipe, o Sr. Vigário acrescentava a zombaria “Castelo no ar”.
Manuel Felipe, inteligente e de algumas letras, gostava de fazer versos de natureza política e divulgava-os como podia. João Brígido, em “Ceará–Homens e Fatos”, cita alguns. Um deles, tendo como mote “todo corcunda é malvado”, mexe com muita gente do Ceará inteiro, até com parentes do autor, residentes nos Inhamuns e ligados à importante família Feitosa.
Dos filhos de Manuel Felipe o que mais influência exerceu em Baturité foi o Tte. Cel. Pedro José nascido em 1818 e falecido em 1877. Este, foi de fato, o maior chefe político de Baturité no século passado. Muitas vezes presidiu à Câmara Municipal e faleceu Deputado Provincial. Tinha o apodo de “Pedro Cru” e foi casado com uma sobrinha, filha de seu irmão José, D. Teresa Antonia. Deste casal descendem muitos baturiteenses de projeção. Foram seus genros os comerciantes João Correia Lima, Balduino José de Oliveira, Porfírio Gurgel do Amaral, Francisco Bezerra de Menezes Soares, o professor Manuel Egídio da Costa Nogueira, desses casais sendo descendentes os Taumaturgos, Pinheiros, Falcões, Severiano Maciel, Paiva e Silva, Soares Arruda, Matos Brito e tantos outros. O ministro Waldemar Falcão, o advogado Lauro Maciel, Érico Paiva, o Cel. Mário Ramos, os irmãos Luiz e Carlos Soares Arruda são descendentes de Pedro José.
A família foi proprietária de sítios na serra, sendo as melhores glebas as que conservam os mesmos nomes de Salvaterra e Correntes, nas margens do riacho cruz, terras que se estendem até perto de Mulungú.
Os Alves de Carvalho também se ligam aos Castelo Branco. Outros filhos de Manuel Felipe originaram novas famílias, sendo Venâncio Castelo a que maior destaque teve, com propriedades de grande produção de café. Por sinal, foi o velho tronco familiar, Manuel Felipe, quem trouxe a rubiácea para a serra.
A família cresceu tanto que extrapolou as fronteiras municipais e estaduais. Não há, no entanto nenhuma ligação com a família do Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, proveniente do Piauí onde se instalou o nobre lusitano que veio dirigir aquela Província.
Também de Manuel Felipe foi irmã D, Teresa Antonia que casou com o primo João Batista da Costa Coelho, e deste casal foi filho o Dr. Antonio Benicio, Juiz da Comarca, progenitor de grande e ilustre família conterrânea.
Manuel Felipe teve dois outros filhos, José Pereira e Alexandre, que muito concorreram para o povoamento da região, chefes que foram de novas famílias que se entrelaçaram com as mais tradicionais da região do maciço.
(Jornal A Verdade nº 3.017 11-12/1991.
Vinicius Barros Leal – (do Instituto do Ceará e da Academia Cearense de Letras).
III – Família Castelo Branco
A família Castelo Branco não foi das primeiras a chegar em Baturité, mas ali já se encontrava no começo do século XIX. Veio de Quixeramobim, onde estava instalada com fazendas de gado.
O Patriarca do Clã foi o português Tenente Cel. Matias Pereira Castelo Branco, natural de Viseu. Vindo solteiro para o Brasil e aqui chegado nos anos trinta do século XVIII. Casou na Ribeira do Jaguaribe com Emereciana Barbalho, descendente dos Correia – Vieiras, gente das mais abonadas da região.
O casal fixou-se nas terras da família que eram muitas, abrangendo fazendas e currais nas margens do Sitiá e do Quixeramobim.
Desse casamento nasceram onze filhos que por casamento se entrelaçaram com muitas outras famílias de criadores da mesma região. Os Pimenta de Aguiar, Saraiva Leão e Leitão foram os que mais constituíram união com os Castelo Branco.
Para Baturité e sua serra dirigiram-se os interesses da família, em vista da boa qualidade das terras propícias para a agricultura e também pela necessidade que tinham de possuir pastos salvadores dos grandes rebanhos, nas freqüentes e temíveis estiagens.
O Tte. Cel. aparece cedo nos registros eclesiásticos, testemunhando casamentos, apadrinhando filhos de serranos e também, nos deveres cívicos.
Dos filhos do Coronel o que mais influência teve em Baturité foi o Capitão Antonio Pereira Castelo Branco, nascido em 1772 e casado com D. Francisca Maria Leitão. Foram muitos os filhos deste casal, alguns participando ativamente da vida local, especialmente o Coronel Manuel Felipe, que casou em Baturité, com Isabel Gomes da Silveira. O sogro de Manuel Felipe, era um verdadeiro potentado, com muito prestigio político e social, o Coronel João Gomes da Silveira, filho do fundador da família Silveira, paraibano de Mamanguape, Capitão Luis Gomes da Silveira.
Manuel Felipe tinha um temperamento inquieto e envolveu-se nos principais acontecimentos locais, desde os movimentos revolucionários de 1817, 1821 e 1824. Esteve sempre na dianteira dos que se rebelavam e protestavam contra a situação corrente. Por isso, sofreu sérias conseqüências, minorizadas por sua habilidade e astúcia. Teve querelas e atritos com muitos elementos conservadores de seu mesmo partido, e brigou até com o respeitável vigário. Este, vingava-se, anotando nos livros de registros os apodos do truculento paroquiano. Sempre que era necessário referir-se ao nome de Manuel Felipe, o Sr. Vigário acrescentava a zombaria “Castelo no ar”.
Manuel Felipe, inteligente e de algumas letras, gostava de fazer versos de natureza política e divulgava-os como podia. João Brígido, em “Ceará–Homens e Fatos”, cita alguns. Um deles, tendo como mote “todo corcunda é malvado”, mexe com muita gente do Ceará inteiro, até com parentes do autor, residentes nos Inhamuns e ligados à importante família Feitosa.
Dos filhos de Manuel Felipe o que mais influência exerceu em Baturité foi o Tte. Cel. Pedro José nascido em 1818 e falecido em 1877. Este, foi de fato, o maior chefe político de Baturité no século passado. Muitas vezes presidiu à Câmara Municipal e faleceu Deputado Provincial. Tinha o apodo de “Pedro Cru” e foi casado com uma sobrinha, filha de seu irmão José, D. Teresa Antonia. Deste casal descendem muitos baturiteenses de projeção. Foram seus genros os comerciantes João Correia Lima, Balduino José de Oliveira, Porfírio Gurgel do Amaral, Francisco Bezerra de Menezes Soares, o professor Manuel Egídio da Costa Nogueira, desses casais sendo descendentes os Taumaturgos, Pinheiros, Falcões, Severiano Maciel, Paiva e Silva, Soares Arruda, Matos Brito e tantos outros. O ministro Waldemar Falcão, o advogado Lauro Maciel, Érico Paiva, o Cel. Mário Ramos, os irmãos Luiz e Carlos Soares Arruda são descendentes de Pedro José.
A família foi proprietária de sítios na serra, sendo as melhores glebas as que conservam os mesmos nomes de Salvaterra e Correntes, nas margens do riacho cruz, terras que se estendem até perto de Mulungú.
Os Alves de Carvalho também se ligam aos Castelo Branco. Outros filhos de Manuel Felipe originaram novas famílias, sendo Venâncio Castelo a que maior destaque teve, com propriedades de grande produção de café. Por sinal, foi o velho tronco familiar, Manuel Felipe, quem trouxe a rubiácea para a serra.
A família cresceu tanto que extrapolou as fronteiras municipais e estaduais. Não há, no entanto nenhuma ligação com a família do Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, proveniente do Piauí onde se instalou o nobre lusitano que veio dirigir aquela Província.
Também de Manuel Felipe foi irmã D, Teresa Antonia que casou com o primo João Batista da Costa Coelho, e deste casal foi filho o Dr. Antonio Benicio, Juiz da Comarca, progenitor de grande e ilustre família conterrânea.
Manuel Felipe teve dois outros filhos, José Pereira e Alexandre, que muito concorreram para o povoamento da região, chefes que foram de novas famílias que se entrelaçaram com as mais tradicionais da região do maciço.
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