sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Desenvolvimento urbano de Baturité – Séculos XVIII e XIX (Parte 2)

No ano de 1856, o então Presidente da Província do Ceará, Francisco Inácio Homem de Melo, ao passar pelas terras serranas de Baturité, escreveu em suas memórias:

“Atravessei diversas fazendas, muitas delas importantes. Não havia ali escravo. Homens bravos, bem conformados, sadios, mostrando em seus movimentos a dignidade de um ente livre, apareciam-me por toda a parte, executando, com desembaraço e alegria, os diferentes trabalhos da Lavoura”.

E acrescenta:

“Estas terras rateadas com tanto cuidado, brotando do seu seio os tesouros da abastança, não recolheram uma lágrima, nem ainda o sangue do escravo as tornou para sempre estéreis”. (Francisco Inácio Homem de Melo, Tricentenário da vinda dos primeiros portugueses ao Ceará (1603-1903) Fortaleza Ceará).
(Franklin Távora e o seu Tempo, por João Aguiar, páginas 26 e 27). (História Baturité, época colonial – Vinicius Barros Leal – Séc. Cultura e Desporto, 1981).

Mesmo na década de 1850, já proximo da Vila de Baturité, ser elevada a categoria de cidade, existiam muitas moradias de taipa e choupanas de palha:

30/01/1857 – 50 palmos de terreno, a Augusto Nogueira de Queiroz, para edificar uma casa na rua nova da Laranjeira encostado a uma choupana de palha.

21/04/1857 – 35 palmos de terreno a Miguel da Silva Brandão para edificar uma casa, onde o mesmo tem uma casa de palha.

21/04/1857 – 30 palmos de terreno para edificar uma casa a Barnabé Francisco da Silva, junto a casa de José Antonio Macaúba, que fica entra as cabanas de Miguel Brandão e Alexandre Barbosa.

25/04/1857 – José Ferreira Nunes aforou 32 palmos de chão para edificar uma casa na rua que segue pela estrada Labirinto que tem pelo poente, e para isto se sujeitou a levantar dita casa, ou que ao menos a frente no prazo de um ano a contar desta data sob pena de ser considerado devoluto o terreno.

1860 a 1862 - Terrível epidemia de cólera varreu os sertões nordestinos. <Às Margens da História do Ceará> Gustavo Barroso. Ed. ABC.

15/02/1861 – 32 palmos de terreno a José Ferreira Nunes para edificar uma casa na Rua do Genipapeiro da parte do poente no lugar onde já se acha edificada uma pequena casa de taipa.

15/02/1861 - 47 palmos de terreno a Lourenço Alves da Costa, para edificar uma casa na Rua do Genipapeiro aonde o mesmo já tem edificadas duas casinhas de taipa da parte de baixo com o foreiro o finado Capitão José Freire da Silva.

15/02/1861 - 26 palmos de terreno a Francisco Lopes Montanha, para edificar uma casa na Rua Nova do Rio Aracoiaba abaixo das frentes de José Perfeito do Nascimento, onde já tem edificada uma casinha de taipa.

15/02/1861 – 30 palmos de terreno a Manoel Alves Ribeiro Pereira, para edificar uma casa na Rua do Genipapeiro, aonde o mesmo já tem uma choupana.

15/02/1861 – 40 palmos de terreno a José Alves de Carvalho Franco, para edificar uma casa, na Rua Nova do Rio ao norte da Matriz desta Cidade no lugar aonde o mesmo já tem uma casinha de taipa.

15/02/1861 – 30 palmos de terreno a Antonio da Costa Maciel, para edificar uma casa na Rua Nova do Rio ao Norte da Igreja do Rosário, cujo terreno o mesmo já tem uma choupana de palha aonde mora.

15/02/1861 - 35 palmos de terreno a Luis Antonio de Franca, para edificar uma casa na Rua Nova da parte do Rio Aracoiaba, junto a Casa de José Perfeito no oitão da parte de baixo, onde o mesmo já tem uma casinha de taipa.

15/02/1861 – 35 palmos de terreno a Luis Antonio de Franca, para edificar uma casa na Rua Nova da parte do Rio Aracoiaba, junto a Casa de José Perfeito no oitão da parte de baixo, aonde o mesmo já tem uma casinha de taipa.

15/02/1861 – 30 palmos de terreno a Thereza Maria de Jesus, para edificar uma casa na Rua da Laranjeira do pé da casa do Cego Sinirdo onde a mesma já tem uma casinha de taipas.

15/02/1861 – 20 palmos de terreno a Francisca Maria de Jesus, para edificar uma casa no Lugar denominado Lagoa do Tenório, onde a mesma tem uma choupana.

15/02/1861 – 30 palmos de João Baptista Jacú, para edificar uma casa no lugar denominado Lagoa do Tenório, onde o mesmo já tem uma choupana.

15/02/1861 – 35 palmos de terreno a Maria Duarte da Silva, para a mesma edificar uma casa na uma da travessa que fica detrás da Matriz aonde uma “puchada” coberta de telha.

15/02/1861 – 26 palmos de terreno a Luis Antonio de Brito, para edificar uma casa na Rua do Genipapeiro aonde já tem uma choupana.

16/02/1861 – 50 palmos de terreno a Joaquim Rodrigues Pinto, aonde o mesmo já tem uma casa de taipa que edificou Antonio Francisco de Souza.

18/02/1861 - 35 palmos de terreno a Francisco José Ramalho, para edificar uma casa onde o mesmo já tem uma choupana.

Notadamente, existiam os ricos, que construiram belas residencias e sobrados como Manoel Dutra de Sousa, que

em 21/07/1857:
aforou 355 palmos na Rua da Laranjeira (terreno onde acha-se edificado atualmente o Forum Governador Virgilio Távora, antigo solar dos Ramos);

possuía em 1875:
uma frente de tijolos na Rua do Rio;

em 20/11/1875:
aforou 300 palmos de terreno na Rua do Assude , vizinho a casa do mesmo, fazendo quina com o sobrado do mesmo.

Possuía nos anos de 1882 e 1883 imóveis:
na Praça da Matriz nº 2, 32;
na Rua do Commercio nº 5, 6, 8, 10, 18;
na Rua 7 de Setembro nº 11, 29, 8, 10, 60, 62;
na Rua da Laranjeira (atual Rua Padre Antonio Pinto) s/n (4);
e na Rua da Cadeia s/n.

A primeira demarcação urbana foi estabelecida pela sessão extraordinária da Câmara de 20/03/1862:
“Seguindo pela estrada que vai para a Capital fica extremada ao pé de um pau d’àrco que fica abaixo da ribeira, seguindo pela estrada do Labirinto fica estremada no lugar Cajazeiras nos limites do sitio do Vigário Raimundo Francisco Ribeiro e Alexandre Ferreira da Silva e fica extremado pelos lado os fundos dos quintais das ultimas ruas”.

Quanto a serra, instala-se a produção de café e de frutas, que estimolavam o desenvolvimento econômico da região.

José Alexandre Castello Branco - 1864 - Vendeu o sítio Pendência (Pacoti) a Luis Ribeiro da Cunha por 7.600$000, sete contos e seiscentos mil reis. Na escritura diz que o sítio pertenceu a Luis Rodrigues Pereira, Manoel Barboza, Manoel Maciel e José da Costa Pimentel e José Avelar. No sítio havia plantações de café, laranja e lima.

Houve também a contribuição dos que aqui chegaram, contratados pela Câmara Municipal para para o exercício das mais diversas atividades, como Amaro Cavalcante (professor de latim)que chegou a Baturité em 1872. Construiu diversos prédios públicos. Demoliu ruelas e em seu lugar construiu a Praça que hoje tem seu nome e que é em parte ocupada pelo prédio do Correio. Por detrás da Praça, construiu sua residência.

Praça Waldemar Falcão – Antes era onde estava a Cadeia Pública.

1877 - Seca – Novamente, o flagelo atingiu o sertão. A pecuária foi severamente atingida, Segundo Thomaz Pompeu, no Ceará o gado ficou reduzido a 1/8. Fazendeiros que recolhiam 1.000 bezerros não ficaram com 20 nos anos seguintes.
Os efeitos da seca, fome, cólera, febre amarela, varíola e devido ao desequilíbrio ecológico: praga de cascáveis.

1878 - Seca - A Igreja de Santa Luzia de Baturité foi inaugurada em 07/09/1879. Sua construção foi iniciada na grande seca de 1877/1878 pelo Governo Imperial como obra de assistência aos flagelados.

O Prédio da Prefeitura Municipal de Baturité, teve sua construção iniciada em 1878, como obra de assistência aos flagelados. Assim como também o prédio da Cadeia Pública.

Milhares de cearenses acabaram forçados a emigrar para o Amazonas. Só de janeiro a junho de 1878, pelos portos de Fortaleza e Aracati, cerca de 35.000 deixaram a Província, a maioria para a Amazônia. O próprio Governo estimulava a emigração ao distribuir as rações dos flagelados e pagando passagens.

Em Baturité, a Câmara foi acusada de não só se desinteressar dos problemas dos flagelados – chegando a demitir o médico que cuidava dos pobres, como também de aumentar os salários dos seus funcionários.
Morreram no Ceará cerca de 200.000 de 1877 a 1880.

1879 – Seca.

1882 - Neste ano, inaugurou-se a estação da estrada de ferro de Baturité, grande realização de João Cordeiro, a convite de quem visitou Baturité, o grande orador abolicionista José do Patrocínio.

25/03/1883 - Abolição dos Escravos em Baturité.

1888 - Seca - O Governo Imperial constrói a estrada Baturité a Conceição (Guaramiranga), usando a mão de obra dos flagelados da seca.

1898 a 1900 – Seca.

Sobre as pessoas que moravam na cidade, escreveu José Maciel:

Baturité era, então, essa gente, esses patriarcas que, somados a muitos outros seria longo e fastidioso descrever. Muitos desses antepassados acostumados, de boa vontade, à conjuntura criada pelo natural envolver do tempo, aderiram ao surto migratório que levou para a Capital do Estado uma considerável parcela da população, de modo que, dentro de uma década, a cidade viu renovado o seu elemento humano.

É de crer que tenha acontecido o mesmo por todos os recantos do norte, de vez que o fim da segunda guerra significou não só para nós, mas para o mundo inteiro, a renovação das coisas, do tempo, dos homens, da vida enfim. (Crônica de José Maciel – Jornal A Verdade 10/09/1972. O velho Torrão.)

Fontes:
Jornal a Verdade. Edições de 1981 – Velhos troncos de Baturité – Castelo Branco.
Mudim de Baturité - Traquinices e Traquinadas.
Livro de Óbitos da Baturité - 1877
Livro de Aforamentos da Prefeitura Municipal de Baturité
Livro de Registro de Imóvel da Prefeitura Municipal de Baturité
Subsidio, Geográfico, Histórico e Estatístico - Pedro Catão.

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