Mercado Público de Baturité (V)
Na Travessa Mattos a pintura de um
negócio novo vence o tempo. Bem vizinho à obsoleta esquina do Ruy, o mercado se
aviva na figura de um bazar muito limpo e bem explorado.
Trabalhador, cuidadoso o dono, Dário
Jardim, vivia com um espanador na mão e vassoura na outra e assim, espanando e
varrendo, ele expurgava sujeira da loja, da calçada, e até da coxia.
Baixo, gordo, Dário dava ares de
iracundo, isto, só aparentemente porque esta última característica não
combinava com seu talento comercial. Se ele fosse enérgico no modo de negociar,
com certeza, ele também sabia ser educado e diligente na hora de conquistar
fregueses.
Dos fundamentos de sucesso do bazar
mais chamava a atenção o modo proeminente de expor mercadorias. Diariamente
Dário improvisava uma diversificada exibição de artigos dependurando-os na
marquise da loja. Eram caldeirões, panelas, bacias, chaleiras, caçarolas,
leiteiras, assadeiras, frigideira, formas de bolo, travessas, cuscuzeiras,
canecos, bules, açucareiros e tudo mais que do alumínio se pudesse transformar.
Quando, no final dos anos 1940, os
plásticos começaram a suceder o metal, decidido, Dário, toma o cuidado de
atualizar o estoque com novos tipos de depósitos de mantimentos, escorredor de
louças, escorredor de arroz, coberta de alimentos e, até, de penicos, afinal
tudo já se fazia com a, então nova, matéria prima de petróleo.
Como toda casa especializada o bazar,
igualmente, vendia objetos em ágata: pratos e papeiros; talheres: facas, garfos
e colheres; peixeiras de todo tamanho, serrote de pão, afinal, um pouco de
tudo.
Depois do Dário, sem poder mais se
esconder dos rastros do “progresso” das chibancas, o mercado prossegue
desfigurado pela dilapidaria das reformas disformes que só serviram para
desfigurá-lo.
Armazéns especializados em gêneros:
feijão, arroz, farinha, goma, açúcar, sal, milho, xerém, massa de
milho; bebidas: cachaça, conhaque, quinado, vinho; temperos: vinagre,
colorau, pimenta do reino, alho, cebola; produtos diversos: biscoitos,
bolachas; sabão, querosene, cigarros, charutos, fósforos, fumo em rolo, fumo em
maço e papelinho; doces: rapadura, tijolinho e batida; lataria: manteiga banha
de porco, gordura de coco, sardinha, carne enlatada; Salgados: bacalhau, carne
velha, peixe em maços; remédios: melhoral, cibalena, cibasol,
pílulas do mato, phimatosan, leite de magnésio, óleo de rícino. Estes foram
os precursores dos supermercados, a saber:
José Alfredo Pinheiro, o Mandioca,
que, muito jovem, herdou o armazém do pai. Continuou e
modernizou o negócio que uma vez em seu poder se incumbiu de suprir, do
que fosse preciso a mãe Dona Carmem e os irmãos mais novos que não
eram poucos.
Neo Vicente outro atacadista de peso
que se deixou suceder pelo irmão Pedrinho Vicente, vendedor jeitoso, de muitos
argumentos, que aumentou o negócio do irmão.
No ponto seguinte ao de Neo Vicente
negociaram os irmãos Antonildo e Hildo Victor, os dois padrões de sucesso no
comércio atacadista. Ambos traziam no sangue a cortesia herdada do pai,
Seu Antônio Porfírio, e a honradez do tio Edmundo Victor, o poineiro
do ramo exemplo, que souberam imitar.
O mercado proceguia no armazem do
magrelo Ocinair, depois deste, na esquina negociou Luiz Senhor. Deste o
ponto passou para a moderna Loja Astecao do Dr. Clóvis Amora
Vasconcelos. No dobrar para a Rua Quinze seguia-se o negócio de
Hildo Paixão, fabricante de calçados rústicos. Adiante a bodega do
velho Zé Pinto Mesquita, fanfarrão amigo de todos que, em cem anos de vida,
tornou-se tipo popular do lugar. O próximo permisionário era seu Otávio
Barros, dono de sítio nas margens do Rio da Bomba, dali seu vizinhos eram
os Francos e Dona Petronilia.
A esquina noroeste, recorda os
irmãos Clélio e Cleto Barros. Estes repassaram o ponto para Raimundo
Viana Sobrinho, o agropecuarista, que na ocasião diversificou seus negócio
com a moderna loja, “A Confiança”, de tecidos e muidezas. A
mesma esquina foi repassada para o sempre lembrado Zé Airton Cardoso, o
Jereissati Preto, chamado assim pela maneira como sabia ganhar dinheiro.
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