Você sabe onde fica o Riacho das Cobras em Guaramiranga? Sabia que foi lá que surgiu a primeira feira livre do maciço da Serra de Guaramiranga e que o Riacho das Cobras, é hoje, a nascente do Rio Pacoti. Este lugar é também o distrito mais antigo da região.
Já pertenceu a Batuité, Guaramiranga, Pacoti e o mais curioso, é que pela Lei nº 6.932 de 18/12/1963 este distrito passou a ser município separando-se de Guaramiranga, pela divisão administrativa vigente à época, isto significava que poderia instalar sua própria prefeitura, mas isso nunca aconteceu.
Já sabe? Este lugar se chama Pernambuquinho, e por que este nome? Isto é o que veremos neste artigo que faz parte do livro que será lançado pelo Dr. Marcélio Farias, historiador de Guaramiranga e que terá muitos assuntos inéditos e interessantes sobre fatos e propriedades das 50 famílias que estavam em Guaramiranga na passagem dos anos de 1800 para o de 1900 e que terá o provável título de “Raízes de Guaramiranga”.
A HISTÓRIA
Pernambuquinho! Quem diria que este povoado já teve seus tempos de glória, poucos imaginavam isto, ou sequer sabiam que teve outro nome “Riacho das Cobras”.
Dizem que o lugar foi fundado por missionários
italianos que chegaram a Pernambuquinho e se impressionaram com os canaviais
que à época tinha as várias nuances de verde e com os engenhos de rapadura que
impulsionavam a juntamente como café à economia da região.
Nos anos iniciais do século XIX, quando na formação
dos primeiros sítios produtores de cana-de-açúcar, tinham no lugar como
destaques, o sítio Botafogo, da família Queiroz que se transformou em Mendonça
por casamento, do sítio Lagoa do capitão Correia Lima, também um autêntico
Queiroz, do sítio Beija-flor, Brejinho, Canaã (Canadá) e Deserto das famílias
Mota/Vieira/Abreu, todas entrançadas entre si e provenientes da região de
Maranguape, do sítio Califórnia, da família Menezes e Brito, posteriormente
surgiram mais sítios com produção de cana-de-açúcar, como Vazantes, Santarém,
Cana-sêca, Limoeiro, Guanabara, Poço Escuro e outros.
No decorrer da segunda metade da década de 70 do século XIX, chegaram ao Pacoti, oriundos do Recife, José da Cunha Medina e sua esposa, Maria da Glória, acompanhados de um irmão pequeno dela, além da sua sogra e um irmão dele, Medina. Tinham vindo ao Maciço no intuito de tratar o infante, que sofria de tuberculose e que, por indicações médicas em relação aos benefícios que o ar serrano poderia lhe proporcionar, escolheram (desconhece-se o motivo, já que em Pernambuco existem algumas elevações com microclima semelhantes) a Serra de Baturité. A tentativa de nada valeu: o garoto acabou falecendo. Mas os Medina ficaram e ajudaram a construir o perfil do Riacho das Cobras, localidade que escolheram para se estabelecer (o irmão de Medina optou por morar na Forquilha, distante um quilômetro).
José da Cunha teve vários filhos, sua filha mais velha, Virgínia Laura da Cunha Medina (1880-1922), casou-se com João Brasiliano de Mendonça e foi morar no sítio Caga-fogo, depois Botafogo. Propriedade bem extensa, boa produtora de café (seiscentas sacas num ano ruim), nela nasce o Rio Pacoti, numa grota chamada Escondido.
O lugar tomou grande impulso e passou a chamar-se de Pernambuquinho, isto se deu pelo fato dos sitiantes quando se deslocavam ao arraial Riacho das Cobras, o que faziam costumeiramente com a finalidade de ver as novidades trazidas de Pernambuco, chegadas via Vale do Jaguaribe, e mais tarde, via Fortaleza, sempre diziam “vamos ao Pernambuquinho” pois ali servia de recanto para trocas e vendas, onde os comerciantes e sitiantes do lugar, como os Epifânios (Ferreira-Lima), os Medinas, os Mendonças, os Marques e muitos outros, traziam, compravam e vendiam volumosas quantidades de mercadorias de fora. Era ali onde se primeiro tinha contato com as novidades vindas de Olinda e Recife, a maioria já originada da Europa.
Posteriormente tornou-se local de uma grande feira livre, quando em 1874, José da Cunha Medina construiu vários box para alugar aos comerciantes e também abriu sua loja de comércio que prosperou e logo o Pai Medina, o patriarca da família passou a ser protetor do lugar e por seu incentivo oficialmente o Riacho das Cobras passou a ser conhecido como Pernambuquinho.
Nesta época os gêneros estrangeiros eram enxada, picareta, machado, fechadura, urinol, prato, copo e garrafa de vidro, tecido fino, tecido de lã, papel da Holanda, goma arábica (tipo de cola ou adesivo), caparrosa (tipo de tinta), etc., posteriormente vieram os gêneros como: querosene, sabão,e algumas dragas afins (remédios), etc., o luxo ainda não havia atravessado o oceano, somente com a construção da estrada de ferro de Baturité, com a instalação em 1882 da estação de Baturité e com a riqueza trazidas pela produção de café foi que foi possível que objetos de requintes e ostentação (cristais, consolos, móveis, etc.) puderam subir a serra, a esta altura, a feira de Pernambuquinho já estava sendo paulatinamente esvaziada, com a sua transferência para a de Pendência (Pacoti), onde perdura até hoje.
CRONOLOGIA
1856 – O Tem-se noticia do lugar onde residia a figura folclórica de Dana Maria Italiana – seu sítio ficava na estrada que liga Pernambuquinho ao lugarejo Forquilha, se estendia pela estrada indo até o Sítio Botija - senhora dinâmica, incansável, que o administrava, tipo mulher-homem, ativa e destemida que escarranchada ora numa sela ora numa cangalha, ia a Baturité, de dia ou de noite, armada de revólver, para negociar os produtos do seu sítio.
Tem-se também noticias do sítio Brejo das Pedras que pertencia a Manuel Vieira da Silva.
1870 - A reconstrução da igreja, agora em alvenaria, a antiga era no alto (morro) e de taipa, porém já com a invocação de Senhor do Bonfim, teve início com a criação da comissão edificadora do templo de Senhor do Bonfim, faziam parte desta comissão: Francisco Alves Cavalcante, Joaquim Alves Lima, Ildefonso Bezerra Lima e Carlos Antônio da Paixão.
1873 - Chega de Olinda para vigariar a capela de Senhor do Bonfim, o Padre José Raimundo Batista de Oliveira, dizem que era primo do Padre Cícero, logo comprou o sítio Vazante, construiu um sobrado onde ensinava latim.
1874 - Quando Pernambuquinho estava no auge de crescimento, apareceu um bando de ciganos, e, quando lias as mãos de populares, lhe foi perguntado de como seria o meio mais fácil de ganhar dinheiro – então disse o cigano – muito fácil, basta conseguir uma parte de qualquer dos santos existentes na capela e fazer como amuleto.
O que foi ensinado foi desastroso, pois à noite entraram as escondidas na igreja e roubaram partes da imagem de Santo Antônio e de Jesus Crucificado, ao amanhecer ao saberem dos acontecidos os ciganos foram embora e não se descobriram os culpados ficando tudo impune, apenas a capelinha foi abandonada e com os anos desapareceu, dando lugar a atual. Dizem que a decadência do lugar se deu devido o castigo divino deste sacrilégio.
1887 - Notícias da existência uma feira livre, inclusive registrada em relatos deixados pelo historiador Pedro Catão, conforme se verifica a página número 175 da Revista do Instituto do Ceara - Volume LII.
1877 - A administração da província realizada pelo conselheiro Estelita, o povoado é beneficiado com verbas de socorro público para a seca, sendo construído o muro do cemitério.
1878 - Pelo ato provincial de 04-06-1878, é criado o distrito de Pernambuquinho e anexado ao município de Baturité.
1890 - A criação legal do distrito de Pernambuquinho se deu pela através do decreto nº 55, que elevou o povoado de Conceição a categoria de Vila, onde seus limites incluíam a área abrangente do seu distrito de paz e do distrito de Pernambuquinho.
1900 - A capela foi reconstruída em, e hoje em sua lateral direita foi afixada a nostálgica e irônica inscrição “O povo de Pernambuquinho do século XIX, felicita os pósteros do século XX”.
1924 – Nasce em Pernambuquinho seu filho mais ilustre, o grande engenheiro eletrônico e pesquisador brasileiro, fundador e primeiro diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Fernando de Mendonça, filho de José Brasiliano de Mendonça e neto de João Brasiliano de Mendonça.
1934 - Nasce em Pernambuquinho outro ilustre filho, Juarez Barroso – [*19.10.1934 – †18.08.1976], filho de José Carlos Ferreira e Clélia Albuquerque Ferreira. Apesar de se ter formado em Ciências Jurídicas e Sociais, cedo ingressou no radialismo.
Deixou as narrativas de Mundinha Panchico e o Resto do Pessoal (1969), ganhador do Prêmio José Lins do Rêgo, do ano anterior, e Joaquinho Gato (1976), também deixou vários romances e contos.
3 comentários:
Muito bom. Davi Cirino
Gostaria muito de conhecer à historia de guaramiranga começando do século xv até meados do século xx.
Gostaria ver a lista de moradores como foi feito para Baturité. Claro se possível, de 1800 a 1900.
Postar um comentário