A
população escrava no Ceará não era muito grande. E com as secas havia a
diminuição, pois os senhores vendiam suas “peças” (assim eram chamados os escravos) a
fim de comprarem mantimentos. Havia mascates italianos que trocavam um escravo
sadio por uma carga de farinha. Estes escravos eram depois vendidos para o Sul
e Sudeste do
Brasil.
Os escravos
do Ceará eram mais utilizados para o serviço doméstico e para o serviço em obras
públicas. Houve poucos escravos trabalhando nos canaviais, pois o clima semi-árido do
Ceará não permitia que o cultivo da cana-de-açúcar se alastrasse por grandes
áreas.
Os escravos
de nossa terra eram tratados com certa benevolência pelos seus senhores,
somente nos canaviais os negros eram maltratados para produzirem mais. Mas isso não
significa dizer que estes estivessem livres de castigos ou de serem tratados
como“peças”. Um
exemplo bem claro era a existência da escravidão urbana, onde os escravos eram
alugados, obrigados a trabalharem fora e mesmo vendidos. Uma prova nítida desta situação
eram os anúncios de jornais que, nos classificados, alugavam, vendiam e
ofereciam serviços de
escravos. Sem falar dos anúncios relacionados à fuga, em que se oferecia até recompensas
para quem encontrasse o escravo fugitivo.
Mas, a
escravidão em território cearense não podia durar muito tempo pois aqui já havia desde
o ano de 1870 muitos abolicionistas. Estes fundaram diversas sociedades com afinalidade
de lutar pelo fim da escravidão em terras cearenses.
Em 25 de Maio
de 1870 nasceu a primeira Sociedade Libertadora no Ceará, a de Baturité, que tinha como presidente o farmacêutico
João Francisco Sampaio. Depois desta criação
surgiram outras sociedades como a “Sociedade Manumissora Sobralense (25/06/1870)”,
“Perseverança e Porvir” (1877), a loja maçônica Fraternidade Cearense, a “Sociedade
Cearense Libertadora” (08/12/1880) e as “Cearenses Libertadoras” (06/01/1883) formada por
senhoras e senhoritas.
Um destaque
especial deve ser dado a “Sociedade Cearense Libertadora”, onde muitos dos
seus participantes juravam “matar ou ser morto em bem da abolição”. Os participantes
chegavam até “jurar colocando a mão no cabo do punhal de João Cordeiro fincado à
mesa”. É claro que não houve matanças, nem grandes batalhas, mas os membros dessa
sociedade fizeram muito pelo fim da escravidão no Ceará.
Cada vez
que uma sociedade era criada vários escravos recebiam cartas de alforria.
Por
exemplo: Quando da criação das “Cearenses Libertadoras”, que contou com a
presença de José do
Patrocínio, foram concedidas 72 alforrias.
Os
abolicionistas fundaram até um jornal onde publicavam artigos contra a
escravidão e sobre as
alforrias que eram dadas. Esse jornal chamava-se “Libertador”, e foi criado a 01/01/1881.
Os
jangadeiros também contribuíram para exterminar a escravidão, pois fizeram uma greve para
não mais transportarem escravos para o sul do país permitindo dessa forma que os negros
aqui ficassem e pudessem ser libertados. Francisco José do Nascimento, o “Dragão do
Mar” ou “Chico da Matilde” liderou o movimento grevista.
Os
militares também lutaram bastante para o fim ao cativeiro tanto que fundaram o “Clube
Militar Abolicionista”.
Com toda
essa vontade de acabar com o cativeiro, a abolição final começou em Acarape. No dia 01/01/1883 em meio a
grande festa a Vila de Acarape libertou seus últimos 32
escravos. Hoje a Vila do Acarape se chama Redenção.
Logo depois
de Acarape vários municípios libertaram seus negros: Pacatuba, São Francisco
(hoje Itapagé), Aracoiaba, Baturité, Icó, Tauá, Maranguape, Messejana e outros. Fortaleza
libertou seus últimos escravos a 24 de Maio de 1883.
Depois de
Fortaleza outros municípios foram libertando seus negros até que a 25 de Março de
1884 no Ceará não havia mais escravos.
O Cearense e seu espirito abolicionista - José Fernandes da Costa Pereira Júnior
Tendo a assembleia legislativa provincial continuado na lei doOrçamento vigente aquella consignação, foi ella distribuída, como cumpria, nos termos da citada resolução. É de esperar do zelo e pátriotismo das commissções encarregadas deste importante serviço, que, nãomenos do que em 1870, o consigam no corrente anno.
O Cearense e seu espirito abolicionista - José Fernandes da Costa Pereira Júnior
MANUMISSÃO
Continúa na provincia o generoso
movimento, que deve restituirà
liberdade os poucos escravos, que ainda existem
em seu seio. Porconta
da consignação feita na lei do orçamento do anno passado forammanumittidos
não
menos de 83 escravos, observado o que a tal respeito
determina a resolução
n. 1,344 de 22 de outubro de 1870,a
saber:
Na capital 21, Saboeiro 6, Icó 7, Acaracú
1, Baturité 6, S. Joãodo
Principe 6, Granja
6, Ipú 3, Aracaty
7, Imperatriz 5, Sobral 8e
Crato 7.
Tendo a assembleia legislativa provincial continuado na lei doOrçamento vigente aquella consignação, foi ella distribuída, como cumpria, nos termos da citada resolução. É de esperar do zelo e pátriotismo das commissções encarregadas deste importante serviço, que, nãomenos do que em 1870, o consigam no corrente anno.
Não ignora a província que V. Ex. em data
de 14 de Fevereiroultimo
renunciou em favor
da manumissão de escravos a quantia de 612$904,
que lhe cabia
como vice-presidente da província,
durante otempo
em que ultimamente este em
exercício, m erecendo por esseacto
os louvores das almas generosas
e o agradecimento
do governoimperial,
expresso em aviso de 16 de Março.
Apressei-me a mandar
que a dita quantia fosse entregue à commissão
manumissora da capital para que a empregasse convenientemente,
marcando o dia 1º de Julho (em que
deverá ter lugar a abertura
da assembéa legislativa provincial) para a entrega das cartas deliberdade
aos que à V. Ex. ficarão devendo tão assigualado benedicio.
A preferencia dada áquelle dia foi de minha parte homenagemprestada
ao generoso procedimento dos eleitos da província, que, traduzindo
o sentir da nobre população cearense, há três
anos consignam
na lei do orçamento quantia, com que
se tem remido já comsideravel
numero de captivos.
As manumissões outorgadas pelos
particulares não são em numero menor do que as conseguidas por virtude de contribuição
do cofre provincial.
A escravidão no Ceará é
um facto condenado,
e o trabalholivre
de difícil e demorada solução em outras províncias,
uma realidade
neste florescente torrão do Imperio.
Póde-se calcular com toda a probabilidade, que no território cearense,
habitado por mais de quinhentas mil almas, existem actualmente,quando
muito, 12 á 20 mil escravos.
A extinção desse resto é
apenas questão de tempo, e de tempo não
remoto, uma vez propensos os espíritos,
habituados os lavradoresao
trabalho livre e organizado este, como se acha na província.
Palácio da presidência da
província do Ceará, 26 de Abril de 1871.
José Fernandes
da Costa Pereira Junior.
José Fernandes da Costa Pereira Júnior (Campos dos Goytacazes, 20 de janeiro de 1833 — Rio de Janeiro, 10 de dezembro de 1899) foi um advogado e político brasileiro.
Biografia
Bacharelou-se pela Faculdade de Direito de São Paulo,
em 1856, aos 23 anos de idade. Retornou à sua cidade natal, onde
advogou com êxito por algum tempo. Apesar de ter se formado em direito,
era versado em assuntos econômicos e desenvolveu o setor das estradas de
ferro e o de imigração, durante os seus mandatos executivos. Foi
partidário da abolição da escravatura.
Em 1868, foi nomeado presidente da província de Santa Catarina, não tomando posse do seu cargo.
Foi presidente das províncias do Espírito Santo, de 22 de março de 1861 a 28 de maio de 1863, do Ceará, de 20 de janeiro a 26 de abril de 1871, de São Paulo, de 30 de maio de 1871 a 19 de junho de 1872, e do Rio Grande do Sul, de 11 de julho a 1 de dezembro de 1872.
Foi eleito Deputado Geral como representante do Espírito Santo, cargo
em que se reelegeu por algumas vezes (de 1872-1875, 1878 e de 15 de
maio de 1885 a 1889). Foi único deputado que se devotou à lavoura, então
em estado de total empobrecimento naquela província.
No governo imperial, foi ministro da Agricultura, de 28 de janeiro de 1873 a 25 de junho de 1875, no gabinete Rio Branco, e dos Negócios do Império do Brasil, de 10 de março de 1888 a 4 de janeiro de 1889, no gabinete João Alfredo Correia de Oliveira.
Quando estava na pasta da Agricultura, preocupou-se com o povoamento
do solo espírito-santense, tendo iniciado, nesta província, a
colonização de Santa Leopoldina, Santa Teresa, Santa Isabel (atual Domingos Martins), Rio Novo do Sul, Alfredo Chaves, por imigrantes alemães e italianos.
Ganhou o título de Conselheiro do Império.
Ocupou a cadeira nº 7 da Academia Espírito-Santense de Letras.
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