terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

MANUEL DO RÊGO FALCÃO

Um Olhar Sobre o Passado
sábado, maio 30th, 2009

Na última semana de janeiro de 1912, Baturité viveu a rebelião mais radical e violenta da sua história: uma revolta simultânea à queda de Nogueira Acioli o oligarca, que governava o Ceará há mais de um lustro.

A cabeça da oligarquia, em Baturité, era o intendente coronel Alfredo Dutra, dono do GRUPÃO, espécie de partido político que possuía banda de música e jornal - O MUNICÍPIO. Na lei, o braço-de-ferro de Acioli era Manoel do Rego Falcão, delegado de polícia, que “tanto pela força do prestígio quanto pelo prestígio da força” ampliava o despotismo no maciço, porque, naquele tempo, o cidadão, para votar, precisava de certidões passadas pelo crivo do chefe policial, regra que tiranizava a vida do eleitor indefenso.

Com a capital em combustão, a insurreição baturiteense saiu de uma facção do Partido Republicano, denominada GRUPINHO, que também possuía uma charanga e um jornal o OITENTA E NOVE.

Tudo começa quando o telégrafo recebe a notícia de que as camadas médias de Fortaleza se aliam aos militares e dão um basta ao déspota. Dessa forma, o tirano renuncia. Em seguida pega um vapor para o Rio de Janeiro.

De boca em boca, célere a notícia rolava por toda esquina.

Os músicos do Grupinho ao tomar conhecimento do diz-que-diz difundido por todo canto, de imediato, chegavam ao bilhar com os seus devidos instrumentos. Logo uma concentração superlotou o anexo do bilhar - um botequim, paraíso dos que não tinham o que fazer ponto inicial dos cortejos, entrudos carnavalescos, das queimas de Judas e de outras gozações como o casamento da ‘’Pinca Julia’’.

Chico Mendes e Julio Severiano, os dois genros do coronel Raimundo Maciel, sendo o primeiro, sobrinho do major Pedro Mendes, organizam uma passeata em desagravo ao GRUPÃO.

À batida do bombo a charanga descerra um dobrado. O som da música engrossa a aglomeração que se prepara para uma marcha pelas ruas da cidade. A multidão, em desfile, passa em frente às residências das famílias mais tradicionais: Ramos, Pinto, Gonçalves, Mota, Maciel, Braga, dentre outras.

Barulhento, o bando, com um fogueteiro à frente, antes de atingir a Praça Santa Luzia, em invectiva, pára para discursos em frente ao armazém do delegado Manoel do Rego Falcão, ali mesmo na Rua do Comércio, hoje 15 de novembro, antes da Praça Santa Luzia, lado oposto do mercado, onde discricionária e inexplicavelmente também funcionava a delegacia de polícia. Por muito tempo senhor da situação para o delegado, que há tempo dominava com mão de ferro o poder discricionário, aquele movimento era insuportável.

Estando em casa, não se contendo, o valente delegado pega o “papo amarelo” e sai em direção à rua. Da porta do armazém, ouve alguém da multidão chamá-lo de bandido. Neste momento ele aciona o rifle. A bala engasga na agulha… Não detona. Em ação continuada, ouvem-se dezenas de disparos. Todos para o ar. Nenhuma pessoa é acertada… Logo após, um balaço solitário alcança o valente coronel, que atingido no pescoço tomba morto. (Falcão, Armando. Tudo a Declarar.).

Calou-se a música, cessou-se o pipocar de foguetes, acabou-se a algazarra. Enquanto alguns pararam para reverenciar o ilustre morto, a maioria prossegue cadenciada, mas em silêncio, no rumo da Praça da Matriz, chegados em frente ao prédio da Intendência – hoje prefeitura – o povo revoltado derruba Alfredo Dutra do poder.

A vontade popular se completa quando o mesmo o povo aclama para intendente municipal, o farmacêutico Joaquim Mattos, um homem moderado, de atitudes superiores, sem radicalismos, anverso a inimizades, portanto a pessoa certa para conduzir a população naquele momento de ruptura com o passado político do município.

"maninhodobaturité.com,br"

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