segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

FRANCISCO DO RÊGO FALCÃO FILHO

RETIDÃO E AMOR FRATERNO

Francisco do Rego Falcão era o terceiro filho de uma irmandade de doze e atendia pelo carinhoso apelido de Chiquinho. Nasceu em 1855 no Aracati, assim como os demais irmãos.
Valdemar, seu filho, foi Ministro do Trabalho no Governo de Getúlio Vargas, na década de 1930. Os outros irmãos eram: Antônio, nascido em 1850; Rosa, em 1852; João, em 1857; Maria Joanna, minha avó, em 1858; Joanna, em 1859; Manuel, em 1860, avô do Armando, que foi Ministro da Justiça no Governo Geisel, na década de 1970; Justino em 1862; Benvinda em 1863; Felícia, em 1864; Rosa em 1865 e José em 1866.
Duas irmãs com o mesmo nome? Sim. Os primeiros filhos são do primeiro casamento com Da. Ernelinda Fernandes, que morreu na terceira gravidez. A Rosa, que nasceu em 1865 era filha da segunda esposa, Dona Ana Ribeiro de Almeida, nascida em Cascavel. Uma era Rosa Fernandes do Rego Falcão, conhecida por Rosinha e a outra era Rosa do Rego Falcão.
Todos os doze irmãos herdaram do pai a delicadeza, a afabilidade que não desce à bajulação, o caráter reto e firme, a capacidade de trabalho, a honra da palavra, o orgulho, o pouco riso (o gargalhar raro e baixo). Incrível, mas as mulheres também eram assim e isso se transmitiu para outras gerações, pois minha avó Maria Joanna, meu pai e sua irmã Maria também apresentavam esse mesmo comportamento.
Aos trinta anos, Chiquinho, após pesar os prós e os contras, chegou para os irmãos e falou:

- A Estrada de Ferro Baturité foi inaugurada e está funcionando. Em toda cidade onde termina uma linha de trem corre muito dinheiro; vou-me mudar para lá. Se alguém quiser ir comigo, é melhor resolver logo.

Os irmãos José, Manuel, Justino resolveram acompanhar Chiquinho. Foram os quatro, e lá se estabeleceram no comércio local, porém sem concorrerem entre si. Francisco e José tornaram-se sócios em uma loja de tecidos e depois constituíram família. Manuel e Justino, como sócios, estabeleceram-se no ramo de secos e molhados – compra e venda de café em grãos, milho, arroz, feijão, farinha, rapadura, fumo de rolo, bebidas, etc. – em grosso e no varejo. Ambos também constituíram família.
Maria Joanna do Rego Falcão, que ficara em Aracati, casou com o também aracatiense Manuel Fernandes de Carvalho, em 1883, e com ele teve três filhos: Eduardo (Eduardim), Maria (Mariquinha) e Rosa (Rosinha).
Em 1900, Manuel morre repentinamente, deixando a viúva e os filhos desorientados.
Mandaram um telegrama para o irmãos Chiquinho, pedindo para comunicar aos outros irmãos o luto. Poucos dias depois chega o irmão Francisco amenizando, com a sua presença, a aflição familiar. Agindo rápido, ele descobre que Manuel deixara um seguro e pressiona para que seja pago logo. Conseguiu. A Viúva recebe o que tinha direito e Francisco fala para a irmã:

- Fique com uma pequena quantia, para as despesas com o sustento nos próximos dois meses. Levarei o restante para fazê-lo render e, de dois em dois meses, mandarei dinheiro para a manutenção de vocês. Não se preocupe.

Procedeu como prometera durante vários anos. A viúva e seus três filhos aprenderam a lutar pela sobrevivência com parcimônia nos gastos, mas sem avareza.
Quando Maria Joanna avisou, por carta, que o seu filho Eduardo já estava empregado e a situação financeira em equilíbrio, Chiquinho foi a Aracati e mostrou, explicando, toda a contabilidade registrada desde o recebimento do capital inicial, os rendimentos e as retiradas bimensais. Do que sobrou, Francisco comprou uma casa para a irmã, em Aracati, entregando-lhe o restante.
A casa adquirida para a irmã, é a que foi tombada pelo Instituto Histórico e Artístico Nacional, por se tratar de prédio antigo, com fachada de azulejo azul e branco, importado de Portugal no século XIX. Está localizada na Rua Cel. Alexanzito nº 712, como se vê na foto ao lado. Foi ali que nasci em 1928, eu e mais cinco irmãos. Somente os dois mais novos nasceram em Fortaleza.
O grande líder negro americano, Martin Luther King, várias décadas depois disse: “Sonho com o dia em que a justiça correrá como água e retidão como um caudaloso rio”.
Eu também posso dizer que este meu Brasil, onde alguns têm vergonha de dizer que são honestos, não conheço registros históricos reais como os que foram vividos por esses meus antepassados, quando vimos correr um caudaloso rio de retidão e amor fraterno!

FONTE - Aracati: o que pouca gente sabe – Leônidas Cavalcante Fernandes – ABC Editora, 2006.

Um comentário:

erickefo disse...

Alguém teria alguma informacao sobre a origem de DIOGO DO REGO FALCAO? Ele se casou com Maria Florinda do Rego em 1884 em Redencao, CE. Teve em torno de 13 filhos e morava na regiao da Canafistula (atual Antonio Diogo). Uma vez que Redencao e Baturite sao bem proximas, me pergunto se ele nao possuia algum laco familiar com os do Rego Falcao de Baturite. Sou trisneto de Diogo e minha familia está tentando descobrir mais sobre nossas raizes. Se alguem souber de alguma informacao e puder compartilhar-la, seremos muito gratos. Obrigado,

Erick Falcao (erickefo@hotmail.com)